Marcas vivas do antigo ritual fúnebre dos homens que aqui viveram

A freguesia da Póvoa guarda segredos ancestrais que esperam por serem descobertos por quem a visita. Um dos vestígios mais antigos, até agora descobertos são as sepulturas escavadas na rocha. São monumentos, de difícil atribuição cronológica, mas que marcam definitivamente a presença do Homem num determinado local. Pois se a vida é feita de trajetos e metamorfoses, a morte é a perpétua ligação ao local onde o corpo recebeu a sepultura.

Falar das sepulturas escavadas na rocha da Ribeira é falar da Idade Média. Este tipo de monumento está relacionado com o povoamento alto-medieval de um determinado local e parecem estar muito associados ao surgimento das primeiras paróquias. A tradição cristã sugeria que os homens, configurados com Cristo na morte, fossem sepultados envoltos num sudário, depositados num túmulo rochoso selado por uma pedra, tal como ocorreu com Cristo cuja pedra foi descolada aquando da Ressurreição. Seguindo o mesmo ritual funerário, os fiéis encontravam na rocha o túmulo indicado para guardar o corpo até ao dia do juízo final, momento em que se ergueriam. Essa crença também justifica a orientação dada às sepulturas, já que se apresentam orientadas em Oeste-Este. Casos há, que não apresentam essa orientação, mas o desvio corresponde normalmente à orientação do templo, como ocorre nas necrópoles junto às igrejas paroquiais.

O sepultamento era feito de forma simples: o corpo depois de lavado, era envolvido num sudário sendo colocado dentro da sepultura na posição decúbito supina, isto é com as costas no leito da cavidade sepulcral. Não é muito provável que fossem sepultados com adornos.

Isoladas ou em necrópoles (agrupadas), as sepulturas escavadas na rocha encontram-se frequentemente em locais promontórios, como esporões graníticos, nas encostas de vales, perto de cursos de água, e muitas vezes junto a antigos caminhos. A escolha do local da sepultura indicia uma crença na vida pós-morte (post-mortem) apoiada na antiga crença da partida das almas para o mundo dos mortos. A localização destes túmulos junto a antigos caminhos parece invocar a perpetuidade da memória, de forma a sugerir ao viandante a caridade ou a misericórdia de uma prece.

As sepulturas escavadas na rocha identificadas, dentro dos limites do concelho de Penedono, até ao momento, são cerca de duas dezenas mas acreditamos existirem mais. São marcas vivas do antigo ritual fúnebre dos homens que aqui viveram, constituindo-se como importantes documentos para a Memória Cultural desta comunidade. Por serem testemunhos de um Passado onde enraíza a nossa Memória e Identidade Cultural, é nosso dever sabê-lo valorizar, divulgar e aprender a proteger.